quinta-feira, 30 de julho de 2015

Encerramento e entrega dos certificados



Hoje à tarde, no auditório da UNOPAR, espaço gentilmente cedido pelo Sr. Erildo do Nascimento, ocorreu o encerramento da Oficina de Calceteiros / Acerta Pedra. Com duas brilhantes palestras proferidas pelo Erildo que discorreu sobre aspectos e curiosidades históricas envolvendo o calçamento e também a palestra do Sr. José Marques, engenheiro civil que falou sobre técnicas modernas de pavimentação, suas vantagens e desvantagens, além da questão bastante atual que é a sustentabilidade. 

O Sr. Prefeito Municipal, Dr. Paulo Célio, entregou os certificados a todos os participantes da oficina, enfatizando a importância de se formar turmas em um ofício que agonizava. Na oportunidade, o Erildo aproveitou para lançar mais uma ideia, a de recalçar o Beco do Mota, na técnica pé-de-moleque, originalmente usada para retirar a escória do garimpo da área das lavras, resolvendo dois problemas de uma só vez; limpando a área do garimpo e calçando as ruas do Arraial (na época era Arraial do Tijuco).

Ao sairmos, apesar de já estar combinado com a turma da limpeza de varrer a areia que foi deixada em cima das pedras, todos que nos viram, reclamaram - e com razão! A poeira que estava lá fazia dó! Mas o Adilson já mobilizou equipes da turma da limpeza para providenciar a retirada do excesso da areia.

Na reunião que houve pela manhã, com os principais envolvidos, tiramos várias conclusões, mas dentre elas, vou citar algumas: 

Não há como fazer sistematicamente o recalçamento de ruas por inteiro, pelo menos por enquanto. O Junno, do IPHAN, foi bem claro; e concordo com ele: a técnica deve ser usada a partir de agora em todos os locais em que houver uma intervenção, de maneira sistemática. Também que a revitalização é um processo lento e que deve ser feito gradualmente, de acordo com a necessidade; sem que se faça uma intervenção exclusivamente apenas para recompor os desníveis do calçamento. 

Esta recomposição deverá ser feita paulatinamente, à medida que houver necessidade de intervenções nas redes, seja de água, pluvial ou esgoto. Aí, poderá se fazer uma restauração de trechos que estejam envolvidos nas obras e também em áreas vizinhas, delimitando trechos de ruas completos, e não apenas a área da vala, por exemplo.

Entretanto, não se descartou a possibilidade de conseguir um grande projeto para uma determinada rua, como por exemplo, a Rua da Glória, já que nela se localiza um monumento de expressão, a Casa da Glória.

Eu concluí que, inicialmente, para dar um treinamento adicional às turmas, acatei a sugestão do Adilson: fazer uns trechinhos de ruas menores, que estão incomodando muita gente, como o final da Rua Macau de Cima, e na oportunidade, colocar dois dos funcionários que fizeram a oficina com mais dois, para repassar a técnica, oportunidade na qual eu já me dispus a ir dar uma palhinha - posso também fazer a tal cartilha que mencionei na postagem anterior.


O Dr. Paulo Célio se mostrou entusiasmado em continuar, acha que está de encontro com o desejo da população e que pretende sim, continuar a consertar trechos e noticiou que o IPHAN já autorizou, e em meados da semana que vem, já começa o processo de assinaturas - trâmites para retirada de pedras da Rua do Areião para fazer o tal tão desejado estoque de pedras e trocar o pavimento lá por asfalto. Sem este estoque de pedras, não há como planejar consertos de trechos de ruas - quando menos se espera, falta pedra, não tem como comprar e o serviço pára - isso não pode e nem deve acontecer.

Bom, o projeto foi bom, repercutiu muito bem, tem tudo para ir em frente, e enquanto isso, devemos dar uma manutenção no que já foi feito - depois de uns dias, depois que a areia caiu e encheu os buraquinhos, teremos que fazer uma "cata" lá no local, procurar cunhas frouxas, algum buraquinho, alguma falha. 

Tudo pode ser motivo de reclamação - não devemos dar chance a críticas, pelo menos as que podem ser evitadas. Para esta tarefa, seria bom só um ou dois camaradas, com uns dois carrinhos de areia lavada, para colocar nos locais que faltam. Esse cuidado é essencial. Deixei em negrito para quem me acompanha - não vamos deixar o local ao léu: é uma experiência, está sendo bem sucedida, mas não podemos abandonar.

E digo mais: para algo que não se faz costumeiramente há décadas, é passível haver erros - não podemos nos eximir de erros, mas para evitá-los, somos os responsáveis.

Deixo aqui dois agradecimentos especialíssimos: primeiro ao apadrinhamento sem precedentes pelo Sr. Paulo Célio, do meu projeto. e segundo, à participação decisiva da COPASA, que se ofereceu para financiar o projeto. Hoje, no encerramento, soube que não é a primeira (e nem deve ser a última) vez que a COPASA se manifesta a favor e projetos da comunidade. Isso é muito bom! 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Área aberta ao trânsito na quarta feira

Oito dias de serviço foram suficientes para o término do serviço. Amanhã, quinta feira, eu apenas pedi ao Norberto para ir com o rolinho para dar uma vibrada e uma compactada geral, para acabar de acertar umas pontas de cunhas, fazer a areia descer para as gretas. Mas o serviço já está pronto.Vejam como está:
Só depois que a areia for limpando, normalmente, é que vamos ver realmente como ficou.
De manhã, começando a recunhar os últimos canteiros

Depois de tudo pronto e limpo os restos, apagando a poeira

Como ficou ao final da tarde. Temos que esperar para ver o desenho limpo, só depois.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Cartilha de calceteria

Em primeiro lugar, obrigado pelo acesso.

Deixe um comentário, uma crítica, um recado - serão úteis e benvindos.

Desde o dia 17 de julho de 2015, está acontecendo a Oficina de Calceteiros / Acerta Pedra.
A obra propriamente dita teve início iniciou no dia 20 de julho, em frente à Catedral Metropolitana de Diamantina, numa área de 120m2

Antes de escrever sobre o assunto do título, vou deixar umas sugestões de leitura:

Para conhecer melhor o blog, sugiro uma sequência: primeiro, leia a postagem: "O folder da oficina", que é uma explicação rápida do que está acontecendo no centro da cidade.

Depois, se você se interessar mais, leia: "Projeto Acerta Pedra Diamantina 2012 repostagem..." ela conta toda a história, toda a lógica do projeto, como tive a ideia, etc.

Se você tem alguma crítica, sugiro que leia: "Respondendo às críticas mais comuns" - nesta postagem, eu respondo algumas das críticas e dúvidas mais comuns que eu li e ouvi. Talvez seja a sua dúvida ou crítica também.



Agora vamos ao assunto da postagem de hoje:

Estou pensando em escrever uma cartilha detalhando os pormenores da técnica recunhada. É uma lógica simples, fácil de pegar na prática, mas pensando bem, isso é para quem já a observa há muito tempo como eu e tem já entendido como funciona. Por exemplo: um erro bastante comum, eu diria até, unânime, em todas as reformas que foram feitas, salvo engano: a cobertura das valas após instalação das tubulações, sejam elas de luz, água ou esgoto, ou pluvial era feita (pelo menos que eu me lembre) com a própria piçarra do local. E isso é um erro que condena o trecho remendado ao fracasso. O material a ser colocado para compactar deve ser esta terra vermelha cascalhenta, com liga mas misturada com areia. Ela, após compactação, não cede e fica bastante rígida, tornando possível suportar o trânsito por cima. Outra vantagem deste material é que ele se compacta, mas tem a capacidade de absorver um pouco da umidade, pelos poros do cascalho, o que a piçarra não faz. Se o tempo inverna, a piçarra amolece e o chão começa a mexer, cedendo ao peso dos veículos. Na terra cascalhenta não. Ela se mantém firme. É a mesma terra usada em cascalhamento de estradas de terra. 


Outro mito que eu não acredito é a tal capacidade de absorver água que o calçamento recunhado tem. Vejam bem: segundo uma explicação razoável que tive recentemente, se contarmos as milhares de gretinhas num determinado percurso e se pensarmos que em cada gretinha desta um pouco de água é absorvido, tem razão de ser, mas por outro lado, se pensarmos nos milhões de litros de água que cada chuva traz consigo, esta absorção é ínfima e desprezível. A eficiência deverá vir mesmo da rede pluvial. E em segundo lugar, se eu pudesse decidir o tipo de forro do subsolo antes de receber o pavimento, eu escolheria a terra vermelha e por cima a cobertura de piche para impermeabilizar, antes de receber a areia lavada para o assentamento. Bom, mas depois eu continuo com estas notas teóricas sobre a cartilha.

Vou postar fotos de hoje, do serviço muito adiantado, quase pronto.
Um "zelador" que até dorme na obra...

Balbino e Tarcísio no recunhamento; a parte que demanda mais paciência, tampando cada buraquinho.

A turma acabando de completar os canteiros e nosso zelador a postos...

O serviço hoje, no encerramento do expediente - mais de dois terços terminado - acho que amanhã, se Deus quiser, deveremos terminar ou faltar bem pouco para isso.
Observe, abaixo, à esquerda, já foi liberado a passagem para os táxis, num trecho já recunhado - a passagem de carros faz o arranjo de pedras ficar mais estável e apertado, com a entrada da areia no meio das frestas.

sábado, 25 de julho de 2015

História recente do projeto e intenções futuras


Em 2014, não me lembro direito a data, o Sr. Prefeito me chamou para avisar que estaria disposto a iniciar o projeto em janeiro deste ano e que o Juninho (secretário de Cultura) é que seria o meu contato maior, o organizador do projeto. 

Devido a detalhes técnicos, o nome teria que mudar para que pudesse ser financiado, mas deu-se um jeito de misturar os dois nomes para atender um pedido meu e deu certo.
E ficou Oficina de Calceteiros/Acerta Pedra.

      Durante o desenvolvimento dos acordos, outras empresas iam entrar também como financiadoras, como a CEMIG e FIEMG, mas devido a fatos da política nacional e a crise financeira, esta parceria foi adiada. A COPASA se manteve no projeto. Ficou claro que existe uma intenção da COPASA de treinar o pessoal que atua na manutenção da rede. Tanto é que nesta primeira etapa (vai haver outras! Que bom!) a contrapartida que foi solicitada seria o treinamento prioritário da sua turma e assim está sendo. 
         Isso tem uma lógica importante e sabemos que dentre as empresas que atuam intervindo no pavimento para ter acesso ao subsolo, a empresa que mais atua é sem dúvida, a COPASA. Água e esgoto, constantemente necessitam de manutenção, intervenção, novas ligações. Nada mais lógico que o treinamento do pessoal que atua diretamente no pavimento da cidade. Esta atitude foi louvável.
       No início (anos atrás) eu pensava que, para que o projeto acontecesse, estas empresas (CEMIG, COPASA, telefonia) seriam convidadas a dar manutenção preventiva na rede subterrânea para a prefeitura realizar a restauração, mas esta inversão nas iniciativas foi providencial.
     Por outro lado, em contato mais direto com a turma da Prefeitura, percebi que todos os funcionários já sabiam da técnica do calçamento recunhado. Só não o faziam porque nunca isso foi proposto. Uma coalizão de ideias é importante; o Acerta Pedra permitiu que todos se reunissem para o processo ser completo; todos sabem um pouquinho, mas não é suficiente; quando a turma que atua, junta com os antigos, junto com o meu ideal de restaurar grandes trechos, aí, o pensamento se completa. 
      É bem diferente a gente pensar em remendos ao invés de restaurar grandes trechos. É mais ou menos assim: para os remendos, vale apenas a técnica de rejuntar com lascas, abolindo o cimento, mas não restaura o conjunto. Para realinhar, re-nivelar, voltar os traços para os devidos lugares, restaurar as “linhas”, só mesmo, restaurando trechos inteiros de ruas, só mesmo retirando a terra velha, ressecada e repondo uma base compacta e nivelada, do jeito que estamos fazendo em frente à Catedral.
       Assim, temos a noção do conjunto. Mas para os remendos, já vale a intenção de todos se proporem de rejuntar apenas com lascas e abolir o cimento, porque além de ser muito melhor, é mais firme e o trânsito não precisa ficar impedido (só para informação: para a completa cura do cimento, é necessário mais de dez dias!). Remendar com lascas é mais prático, porque, após o remendo com cunhas de pedra, é só jogar areia e mandar carro passar para ir apertando mais e mais – o trânsito ajuda!

      Outro detalhe que vou deixar em negrito: a compactação do solo para receber os remendos de valas também é muito importante! Ao se fazer uma vala, é preciso ter um estoque de cascalho vermelho (e já tem algum) no fácil para colocar no lugar da piçarra - piçarra cede e deve ser abolida nos remendos de valas. Fez a vala, joga a piçarra fora e volta com cascalho vermelho.

          Em relação à participação da prefeitura por meio da Secretaria de Obras, representada pelo Daniel, com seus chefes de turma, Adilson e Norberto, é importante porque a prefeitura é que terá a iniciativa de restaurar trechos de ruas maiores. Quando isso for feito, após retiradas as pedras, a COPASA será chamada para dar manutenção na rede, antes da recomposição final das pedras. Vou dar dois exemplos: já tem dois trechos mais ou menos marcados para serem restaurados; não são grandes, mas é assim mesmo que tem que ser – ir devagar até pegar o ritmo. O primeiro é ali, no final da Macau de Cima, chegando na pracinha da Santa Casa.          
        Planeja-se retirar mais ou menos uns trinta metros de calçamento e renivelar o piso para os carros não rasparem o fundo no chão. Do mesmo jeito, no início da Rua Espírito Santo, no entroncamento com a Rua Rio Grande. Eu sei que a turma já está no ponto e tendo verba e pedras para estas obras, sei que será um sucesso!

sexta-feira, 24 de julho de 2015

O entusiasmo da turma

Não gosto de ficar confessando isso, mas sou péssimo para nomes de pessoas. Já fiz curso para corrigir, mas não adiantou. Para contar a vocês os nomes de todos da turma do nosso projeto, tive que pedir para escrever num papel para eu colocar no blog agora à noite.

Da turma da Prefeitura, liderada por Adilson:
Domingos,
Marquim Fogueteiro,
Manim,
Kinha,
Irmão,
Zé Lindo.
Todos são profissionais treinados em várias especialidades inclusive de calceteiros, mas que nunca haviam feito um trecho de calçamento recunhado, justo porque não se usava mais. Todos eles já tinham ouvido falar, sabiam em parte como se fazia, mas a totalidade da técnica, os segredinhos, as manhas, é só fazendo mesmo para as pessoas pegarem.

O Balbino e o Tarcísio são os calceteiros mestres, com o espírito de liderança inato deles, cada um saiu para um lado com uma parte da turma, até que soltaram as duplas para trabalharem em separado.

Além destes, nos dois dias que o serviço foi mais bravo, tivemos um reforço da turma do Norberto, que foram uns oito, me parece, mas não peguei os nomes. Precisava, porque a gente tinha que fazer o negócio sair logo. Ficar no quebra-quebra muitos dias não ia dar boa impressão. 

Sei que quebramos tudo num dia só. No outro, tiramos a terra e recolocamos a nova. Teve uma hora lá, na segunda feira, o frio estava arrebentando e eu sem querer sair de lá para buscar paletó, um deles veio me gozando: deixa eu te dar uma caneta que você vai esquentar - a "caneta" era uma alavanca - com cinco minutos que eu comecei a quebrar com a tal "caneta", já não tinha mais frio e já começava a suar - santo remédio! Sei que botamos prá quebrar!

Da turma da COPASA, liderados por Aderilson, foram cinco:
Juninho,
Cláudio,
Diego,
Maurício,
Alan.

Estes da COPASA, depois que ficou claro que eu queria que refizéssemos um "X" que fora desmanchado ali no meio da obra, eles se entusiasmaram de um jeito que ninguém podia encostar nos canteiros do "X" - só eles! Isso é que é bonito!

Aos poucos, a turma, que nos primeiros dias ficava meio tensa por causa do serviço chato de arrancar pedras e depois tirar terra. Mas anteontem, ontem e hoje, veio a parte boa, a parte que a gente começa a ver o serviço saindo, a diferença que vai ser quando ficar pronto, o povo vendo e gostando, todo mundo parando e mexendo com um e com outro. 

O tempo passa, o serviço rende a a gente nem vê. Quando assusta,o negócio já está longe, adiantado.

No finalzinho da tarde, combinei com a turma para dar uma faxina lá, tirar todos os restos de pedra e terra, varrer e deixar tudo no ponto da turistada tirar retrato amanhã. A gente sabe que vai ter vesperata, vai ter formatura da Odontologia, a cidade vai ficar empapuçada de gente. 

O projeto acontecer nesta época veio a calhar porque muita gente está de férias e pode ir lá conhecer um pouco sobre as nossas pedras. Por falar em pedras, deixamos uma baita pedra bem na borda, para todos verem como eles são grossas e pesadas.

Deixamos tudo limpo, justamente para todos poderem apreciar e tirar fotos desta bela arte do nosso povo, uma exclusividade desta terrinha.

Um abraço a toda a turma. Na segunda feira brava tamo lá garrado!
Uma foto de como ficou o canteiro de obras ontem e hoje à tarde, depois do serviço

Esta foi de ontem

Hoje, já vemos metade dos canteiros já preenchidos (a parte mais trabalhosa)
Percebam como que de cima à esquerda, para baixo à direita, aparecem cada vez mais pedras brancas (as novas). Isso porque no início, fomos usando as antigas que davam para aproveitar e à medida que is chegando mais pedras novas, usamos mais delas, que são de ótima qualidade, bem duras - as tais pedras mulatinhas (mas só ficam mulatinhas mesmo depois que os carros passam e as sujam de borracha)

Nesta hora, a gente já tinha lavado as pedras todas, justamente para o povo amanhã admirar o serviço e fazer fotos no limpo.
Uma parte da turma aí: Eu fiquei à direita com o Tarcísio. Ele leva melancia para lanchar todo dia, mas fica com vergonha de comer e não oferecer o povo, por isso, fica com ela escondida debaixo da camisa. 

Um pedido de desculpas

Quero fazer um pedido de desculpas publicamente por não ter me referido antes ao apoio dado pelo blog "Passadiço Virtual". 


Não foi intencional, mas falhei pelo esquecimento. Agora venho admitir a falha e reconhecer o grande apoio que foi dado ao projeto pelas postagens feitas pelo Fernando, todas as vezes que lhe enviava. Dias atrás mesmo, enviei mensagem a ele, contando do lançamento, mas..... ao mencionar os apoios recebidos, não me referia ao apoio do Passadiço Virtual! Que falha! Me desculpe, Fernando!

Faço esta postagem com esta intenção - pedir desculpas e ao mesmo tempo, agradecer ao Fernando pela parceria, sempre pronto a ajudar; ele que me ajudou também a construir este blog, na época. 

Mas pelo que eu conheço do Fernando, acho que será capaz de compreender e aceitar minhas desculpas. Fernando: muito obrigado pelo apoio no Passadiço Virtual, um veículo de comunicação importante e idôneo.





Grande abraço 

Ricardo

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Para você que acessa o blog pela primeira vez...

Em primeiro lugar, obrigado pelo acesso.

Deixe um comentário, uma crítica, um recado - serão benvindos.

Desde o dia 17 de julho de 2015, está acontecendo a Oficina de Calceteiros / Acerta Pedra.

O nome mudou porque pela parceria que foi feita entre a prefeitura e a COPASA, achou-se por bem incluir o nome Oficina de calceteiros, justamente porque é um treinamento de profissionais do ramo, na arte da calcetaria. Eu entrei como mentor do projeto, uma participação paralela à coordenação do projeto, que está sendo feita pela secretaria de cultura e de obras da prefeitura. A COPASA participa também com seis funcionários que estão participando da oficina. Também a prefeitura participa com seis funcionários também.

Bom: para conhecer melhor o blog, sugiro uma ordem para você ler: primeiro, leia a postagem: "O folder da oficina", que é uma explicação rápida do que está acontecendo no centro da cidade.

Depois, se você se interessar mais, leia a postagem: "Projeto Acerta Pedra Diamantina 2012 repostagem..." ela conta toda a história, toda a lógica do projeto, como tive a ideia, etc. Você vai conhecer mais um pouco sobre o calçamento de Diamantina.

Depois, talvez, se você teve acesso a uma outra reportagem sobre o evento, ouviu ou tem alguma crítica a fazer, leia: "Respondendo às críticas publicadas pela internet" - nesta postagem, eu respondo algumas das críticas e dúvidas mais comuns que eu li e ouvi. Talvez seja a sua dúvida ou crítica também.

Bom, hoje vou escrever algo sobre pagamentos e recebimentos. Todos ficam curiosos não é mesmo?
Pois bem: em primeiro lugar, vou falar sobre minha participação que é voluntária, desde o início, em 2007, quando lancei o projeto. O fiz por um ideal e minha recompensa é ver o serviço pronto. Nem me importo de ficar uma ou duas semanas das férias por conta da obra - é um gosto ver o pessoal entusiasmado vendo o serviço saindo no capricho (vejam abaixo as fotos).

Quando fiz quinze anos, ganhei uma bicicleta de pneu fino e eu ficava injuriado porque ele ficava "batendo" nas quinas das pedras. Desta época, passei a prestar mais atenção no calçamento e nos estilos, fui olhando e aprendendo por mim mesmo. Meu projeto é para que este calçamento seja melhor, seja refeito aos poucos e para mim, isso representa a satisfação de ter um desejo realizado.

Um gasto: PEDRAS - as pedras, depois de retiradas, não dá para voltar exatamente no mesmíssimo lugar, só se o local fosse fotografado, as pedras numeradas e codificadas, mas como em frente à Catedral a bagunça era generalizada, no local onde descalçamos, este registro não foi feito e nem teria sentido. Bom, as pedras ao serem recolocadas, muitas serão perdidas, muitas quebram, muitas são cortadas, muitas estavam já "podres" (esfarinhando). 

Tem que haver uma reposição. Também, em áreas que tinha cimento como rejunte, este espaço vai ser ocupado com pedras. 

Ou seja: a maior despesa nesta empreitada é com as pedras. Do orçamento que foi calculado e doado pela COPASA, mais da metade foi para comprar pedras novas.

O restante do dinheiro serviu para comprar ferramentas, areia, lanche para a turma todos os dias, banner que colocamos lá na obra e os honorários dos calceteiros convidados para dar o curso. Ah! E tem mais: as ferramentas tiveram que ser muitas de cada; muitas colheres, muitas marretas, muitas linhas, muitas réguas, etc, pois são doze pessoas aprendendo o ofício. Sem contar que estamos torcendo que tudo ocorra bem, que nada dê errado ao ponto de comprometer o orçamento, que não demore muito. Existem muitos receios e eu não tenho medo de expor isso publicamente. ESTE É UM PROJETO PILOTO - vamos aprender muito com ele, como: custos, tempo de execução, quantidade de material, tudo isso, para empregar em futuros projetos de restauração de outros trechos, desta vez, maiores e mais arrojados. Lembrando mair uma vez que é uma técnica que não é usada há mais de SESSENTA ANOS! Uma coisa é espalhar pedras, alinhar, nivelar e concretar em volta. Outra coisa é usar o dobro ou mais do dobro de pedras, meticulosamente lapidadas para preencher todo o espaço. é muito diferente, muito mais demorado e principalmente - EXCLUSIVIDADE DE DIAMANTINA!

Bom, depois de toda estas explicações, vou postar uma foto de hoje - hoje o serviço andou muito! Ao final da tarde, o local ficou muito bacana! Estamos refazendo um "X" que tinha sido desmanchado com o tempo, um "X" exclusivo, que eu nunca vi em outro local daqui - só tem na direção da porta da Catedral. Soube, por meio do Wander Conceição, que aquela praça foi recalçada em comemoração aos cem anos de Diamantina, pelo prefeito Joubert Guerra e por isso também toma o nome dele. então, desde 1938, aquele trecho está sofrendo deterioração e sem receber manutenção. Estamos refazendo uma arte de 72 anos atrás! Vejam como está ficando bacana.
Um croqui, antes de iniciar a obra

A turma no batente - assentando os "traços"
Hoje à tarde (quinta feira) - como está. Veja o "X" à esquerda.

Uma vista de todo o canteiro de obras. Observe as "linhas" longitudinais e as transversais, formando os "canteiros". Na esquerda, embaixo, um canteiro já foi preenchido com os "matacões". Falta só recunhar, mas o recunhamento é feito depois de tudo assentado, tudo de uma vez. A turma toda catando os menores buraquinhos, as menores frestas e socando lascas de pedra em todos os cantos.
Feito isso, o conjunto toma uma rigidez que pode abrir ao trânsito logo de cara. 
Estão vendo um banquinho pertinho da placa de proibido estacionar? Bem na direção do holofote? Pois bem temos seis banquinhos lá. Servem para você, você mesmo, se quiser, vá lá e vá sentar-se conosco, conversar, olhar, palpitar.... e sentado no banquinho! Lhe aguardamos lá!

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Primeiro contra-tempo do projeto

Hoje de manhã, quarta feira, seria o início do assentamento das linhas para formação dos canteiros. Chegamos e logo em seguida, o rolinho compactador também chegou. Compactou que foi uma beleza. Balbino e Tarcísio a postos, desde 15 para as oito.

Na terça feira, quando fui com ao Bonssucesso (perto de Curralinho) escolher a terra para o assentamento das pedras (não pode ser nem argilosa demais sem solta demais, como o saibro). Fui no intuito de escolher esta terra e também trazer a segunda caçamba de cascalho para repor no local, já que havíamos retirado duas caçambas de material velho, ressecado do canteiro.

No caminho, paramos para escolher a terra, dentro de um local já cedido para a prefeitura e que estivesse perto da máquina escavadeira. Esperei carregar o cascalho e ficou combinado do Norberto voltar ainda naquela tarde, carregar a terra escolhida e voltar, para no dia seguinte, já estar no canteiro de obras. Pois bem: ao chegarmos no centro com o cascalho, já eram 16:30. Não daria tempo para ele voltar ao Bonssucesso de novo para carregar a terra.

Este foi o contratempo. Hoje de manhã (quarta), houve um desencontro com o operador da carregadeira que teve que deslocar a máquina para um outro local , com outra obra e ele só conseguiu carregar bem mais tarde, chegando aqui depois do meio dia, sem almoço, mas mesmo assim, me ligou para eu ir com ele ao centro para descarregar onde eu indicasse para não atrapalhar o serviço.

Neste meio-tempo, na obra, tive que dispensar a turma, lá pelas 10 da manhã, já que por telefone, nos comunicou o ocorrido. Combinei com a turma então, que a gente poderia voltar às 13 horas, para compensar um pouco à tarde e todos concordaram. A terra foi descarregada junto com a chegada da turma, uma da tarde. Perdemos uma manhã de serviço, mas foi obra do destino mesmo, não havia com prever isso. É mandar bola para a frente. Mas logo que a terra chegou, a turma parece que ligou o motorzinho e mandou ver no assentamento de pedras.
Vou colocar umas fotos agora.

O rolinho compactando o cascalho

A turma iniciando o assentamento das linhas - estas da beirada são de 40 cm.

Outra turma pegou do outro lado assentando e distribuindo a terra 

Ao final do dia, como está. Amanhã espero que o serviço renda muito mais, pois já temos o material no local e a turma já pegou o ritmo; cada um na sua função - eles mesmo se organizam e o negócio vai que nem um relojinho.

O folder da oficina


Esta é a capa do folder que conseguimos fazer por meio de patrocínios. Por dentro deste folder que conseguimos fazer por meio de patrocínios:
Abaixo, vou colar o texto que vem por dentro deste folder:


Conheça um pouco do Projeto Acerta Pedra

Um dos aspectos marcantes do Centro Histórico de Diamantina é o calçamento em pedras. Antigamente as ruas foram recobertas por pedras oriundas do garimpo, que eram roliças e davam  aspecto de um doce comum na região, o pé-de-moleque. Em meados dos anos 1940 a 1960, iniciou-se a renovação do calçamento das ruas da cidade com um novo estilo de pedras e também na disposição das mesmas. Chamado de calçamento romano ou calçamento “recunhado” era feito com as chamadas “pedras-laje” e veio para substituir o pé-de-moleque.
Este novo estilo, praticamente único no Brasil, inspirado nas calçadas da Roma antiga, se caracteriza por ter as pedras perfeitamente encaixadas, sem espaços entre elas, sendo que as próprias pedras fornecem a estabilidade ao conjunto, pelo fato de serem colocadas apertadas umas às outras, daí o nome: “recunhado” – uma alusão às cunhas de pedra que as apertam.
Dentre as pedras-laje, as “capistranas” se destacam por serem mais largas, por estarem enfileiradas no meio da rua e segundo o saber local, serviam para as damas passarem mais confortavelmente com seus saltos. As “linhas” ou “traços” são pedras-laje lapidadas que servem para demarcar as vias de tráfego. O entrecruzamento destas “linhas”, formam os “canteiros”, espaços geralmente de dois por dois metros, que são preenchidos por “matacões” – pedras-laje sem forma definida, que preenchem os “canteiros” para depois serem recunhados com as lascas de pedra, provenientes do próprio processo de lapidação.
Estas técnicas eram de domínio dos calceteiros, na maioria das vezes funcionários públicos. Por demandar mais tempo para ser realizado, o calçamento recunhado caiu no desuso e as pedras-laje passaram a ser simplesmente colocadas no solo e os espaços entre elas preenchidos com cimento, acelerando o processo. Entretanto, ao usar o cimento como rejunte, as pedras se deslocam com mais facilidade até se soltarem completamente, gerando desníveis que dificultam o caminhar e o trânsito de veículos.



Com o objetivo de resgatar a técnica do calçamento recunhado a fim de formar mão-de-obra jovem de modo a possibilitar recuperação do calçamento de maneira gradual, mas contínua, a Prefeitura de Diamantina, através da Secretaria de Cultura, Turismo e Patrimônio estabeleceu parcerias com o Projeto Acerta Pedra do diamantinense Ricardo Lopes Rocha e a COPASA para a realização da Oficina de Calceteiros/Acerta Pedra.
O calçamento de Diamantina é uma mostra da arte dos nossos antepassados, que, instintivamente, usavam a escória do garimpo para calçar nossas ruas. Uma lição de arte e sustentabilidade.
Devido ao fato de primar pela calma, amor ao ofício e capricho na criação de mosaicos meticulosamente trabalhados, esta arte estava na contramão do corre-corre dos nossos tempos, por isso foi relegada ao esquecimento.
O Projeto Acerta Pedra contou com o apoio do círculo de amigos do seu idealizador, do IPHAN, dos jornais Voz de Diamantina e Gazeta Tijucana, Rádios 98 FM, Rádio Cidade, Rádio 97 FM e TV Vale.
Com o apoio definitivo do Prefeito Paulo Célio de Almeida Hugo, dos secretários de cultura, Walter Cardoso França Júnior, e de obras, Daniel Martins da Silva, foi possível tornar realidade este projeto piloto que vem para servir de vitrine a futuros recalcamentos de trechos de ruas em Diamantina.
Fruto da criatividade dos nossos antepassados, temos sob nossos pés, uma verdadeira obra de arte que continua prestando serviço e sendo usada diariamente sob a forma de pavimento.
Seja bem vindo ao canteiro de obras da Oficina de calceteiros Acerta Pedra.
Esteja à vontade para apreciar esta arte genuinamente diamantinense.



Equipe da Oficina de Calceteiros – Acerta Pedra

terça-feira, 21 de julho de 2015

Respondendo às críticas publicadas pela internet

Ontem, um jornal on-line publicou matéria sobre o projeto que está acontecendo em frente à Catedral.
Dentre os comentários feitos, eu li alguns de pessoas que se mostraram insatisfeitas pelo fato de não ter sido feito em seu bairro, outras ironizando o evento, relacionando-o a campanha política, outros perguntando porque não fazer em outro local, que não o centro da cidade.

Em resposta a estas críticas, advindas de leitores diversos, vou responder as que estou me lembrando:
Em relação ao local: a escolha do local demandou muito tempo e muitas opiniões. Por ser um primeiro trecho, teríamos que escolher um local que incomodasse minimamente a população, pois sabemos de antemão, que qualquer coisa que atrapalhe, mesmo que por pouco tempo, que tire um pouquinho só o conforto dos cidadãos, mesmo que seja para beneficiar mais tarde, gera muitas reclamações. Pois bem: em frente à Catedral, por ser uma praça muito grande (900 m2), coube o projeto, coube o lugar de colocar o material e ainda deu para o trânsito ocorrer sem interrupção.

O trecho teria que ser central para ser visto e CRITICADO pela população - tanto no sentido de aprovar como desaprovar. Num bairro, a circulação é só das pessoas ligadas ao bairro. Neste ponto, a SUA AVALIAÇÃO  é muito importante. Além deste blog, estamos bolando uma maneira da população dar opiniões.

O trecho teria que estar estragado. Quanto a isso, escutei não foram nem uma nem duas vezes: foram inúmeras vezes: "porque não fazer na Rua das Monteiras": a Rua das Monteiras (Rua do Fogo; Rua da Igreja da Luz, é a mesma rua) requer uma logística muito forte, desvio de trânsito, uma compra de pedras para repor de um valor muito alto, um tempo de execução muito maior e é um local que não se adequa de jeito nenhum a um projeto-piloto como o que está sendo feito em frente à Catedral, para justamente, nos informar sobre custos, tempo de execução e etc. É lógico, a Rua das Monteiras está MUITO RUIM. Ninguém nega isso, mas para intervir lá, teremos que ter todas as informações sobre tempo, custo por metro quadrado, verba para pedras, MÃO-DE-OBRA jovem e treinada (que é o que estamos providenciando agora), tudo pronto para poder enfrentar uma empreitada do porte de uma rua daquelas. Com todos os problemas que poderiam acontecer durante a obra.

Outra crítica; porque realizar no centro (privilegiado em todos os sentidos) ao invés de fazer em um bairro - Respondo: a verba doada pela COPASA ( a COPASA é que está financiando este projeto, nesta primeira fase) foi suficiente para um trecho de 120m2. Sendo assim, não teria como ser feito em um bairro sem cometer injustiças com os demais.
Além disso, um dos objetivos do projeto é ser visto. No centro, certamente está sendo visto. As críticas a gente responde, pois elas são sempre benvindas e nos ajudam a pensar e agir melhor.

Quanto à questão eleitoral: peço que dêem uma olhada em uma postagem mais antiga que esta: a do dia 17 de julho - uma que conta toda a história do projeto. Vocês vão perceber que lancei este projeto há oito anos, e por isso mesmo,passou por três administrações diferentes. Se o Dr. Paulo Célio, na atual administração adotou o projeto e a COPASA o financiou, isso nada tem a ver com política.

Escrevo ainda que, por ser uma técnica esquecida há mais de sessenta anos, não havia como fazer um projeto para restaurar um grande trecho ou mesmo todo o centro, ou bairros, ou o que seja, sem ter pessoal treinado e capacitado para tal. Simplesmente, todos os calceteiros que ainda se lembram, mesmo que pouco de como era a técnica, já estão aposentados, doentes, ou fracos para enfrentar um serviço destes. Esta oficina é portanto, um esforço de reunir estes antigos profissionais para ministrarem um treinamento aos que ainda estão na ativa e jovens. Assim, futuros projetos podem ser propostos e aprovados, a partir da formação de mão-de-obra treinada.

Finalmente, para os moradores de bairros que se mostram insatisfeitos, tanto pelo fato de não serem contemplados pela reforma do calçamento do seu bairro ou pelo fato de não terem um asfalto, informo que um próximo passo, já bastante comentado é que se pretende retirar pedras de ruas afastadas do centro histórico e com isso fazer um estoque de pedras para restaurar o centro. De onde for retirada estas pedras, se pretende bloquetar ou asfaltar. Isso é projeto para um futuro próximo, penso eu. E para que isso ocorra, estejam certos de que esta oficina está colaborando, e muito.

Concluindo, caros internautas, obrigado mais um vez pelas críticas, sem elas eu não estaria esclarecendo nem aos críticos e nem ao restante da população que torce para que o projeto Acerta Pedra dê certo.

Aproveito então, e agradeço a todos aqueles que foram lá (e não foram poucos!), nos levando uma palavra de apoio, de positividade, a todos que, tendo acompanhado comigo e conhecido todo o projeto, desde o início, foram lá para dizer: ATÉ QUE ENFIM!   ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA, TANTO BATE ATÉ QUE FURA!

Pois é, caros internautas, vocês que tomaram conhecimento do projeto no jornal on-line que foi editado ontem, saibam, que tem UM MONTE DE GENTE, muita gente mesmo, daqui e de fora, que acompanha este sonho há mais de oito anos! Isso mesmo! A estes, a todos os amigos leitores, o meu muito obrigado, de coração!

E por fim, convido-os a conhecer mais, tanto por este blog, como visitando o canteiro de obras, todos serão bem vindos lá. As criticas são sempre bem vindas, todos os dias temos muito a aprender, justamente de quem vem com um olhar crítico de fora, sem ter participado de nada - estas críticas são muito importantes porque não têm o viés de alguém que participou, que torce por aquilo.

Vou postar uma foto do conteiro hoje à tarde: retiramos a terra velha, a areia preta, ressecada e colocamos um cascalho argiloso, excelente, muito bom para compactação.
Meu amigo - Norberto Hélio, escolhendo o cascalho, na fonte!

Espalhando o cascalho (direita) e retirando a terra velha - à esquerda

Amanhã: compactar e começar a assentar os traços - vale a pena ir lá - deve ficar bonito, penso eu.

Ricardo Lopes Rocha

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Primeiro dia no canteiro de obras

Pessoal, na segunda feira, hoje, dia 20 de julho, a Oficina de Calceteiros / Acerta Pedra foi muito legal. Muitos amigos passando, me cumprimentando, me senti apoiado por todos eles. Quero então, compartilhar com vocês algumas fotos do que ocorreu hoje; estou em casa com os pés doendo, mas como mesmo disse um dos carinhas lá, ao me ver chegar de chinelo, de manhã: "opa! de chinelo não pode nem entrar aqui - olha o acidente" e ele tem razão - fiquei fora e de tarde, fui com tênis, com pé doendo e tudo, mas valeu muito a pena. tem um monte de fotos, mas vou postar algumas só. Do início, e depois do final da tarde, quando já havíamos retirado 99% das pedras que precisamos retirar. Amanhã, é o dia de retirar terra para colocar uma outra, mais cascalhenta, para compactar e só então, nas quarta feira, começarmos para valer, o assentamento das pedras, desta vez, bem alinhadinhas, niveladas e reconstituindo o traçado original.
Aguardo todos vocês lá!
Um abraço.
Eu de camisa amarela. À minha direita, Balbino; à minha esquerda, Tarcísio. Agachado, de camisa branca, Adilson, o encarregado da turma da prefeitura e atrás dele, em pé, Aderilson, representante da COPASA






Início da retiradas das pedras - foi rápido - muita gente trabalhando!



De tardinha, quase retirando tudo

Após a segunda feira, garrado - retiramos tudo, faltou tirar uma ou outra pedra. Amanhã vamos retirar uma camada de terra de mais ou menos uns 15 cm e depois colocar uma outra, compactar, já preparando para a recolocação das pedras.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Projeto


ACERTA PEDRA


Diamantina - 2012
Repostagem: 17 de julho de 2015, após o lançamento, no Mercado Velho, às 8:30.
Hora da postagem: 12:34







Projeto para revitalização do calçamento de Diamantina
INTRODUÇÃO: O calçamento de Diamantina foi feito originalmente com pedras roliças que sobravam da exploração do garimpo. Pelas características peculiares que tinha, foi alcunhado de “pé-de-moleque”. Por meio de observação cuidadosa, pude identificar fases e técnicas desde o estilo “pé-de-moleque” até o que se pratica atualmente nos novos calçamentos.
Em substituição ao “pé-de-moleque”, e inspirado nas antigas calçadas de Roma, foi feito o calçamento estilo romano, tipo o existente na Via Ápia.
                                                  
Detalhe da Via Ápia, modelo de calçamento romano.

Em meados dos anos 1940, o calçamento do tipo “pé-de-moleque” foi sendo substituído pelo calçamento romano, no qual passou a se usar as “pedras-laje”, que são pedras largas e planas. Extraídas de jazidas de quartzito, elas eram lapidadas em forma de retângulos e dispostas longitudinalmente às ruas para marcarem as vias de trânsito. Pedras retangulares também eram dispostas, de espaços em espaços, no sentido transversal da rua, formando quadrantes, alcunhados de “canteiros”. Estes canteiros por sua vez, eram preenchidos por outras pedras-laje sem lapidação, chamadas de “matacões”. Para finalizar o trabalho, todas as pedras eram apertadas umas nas outras com fragmentos delas próprias; o que rendeu a este estilo de calçamento o nome de calçamento “recunhado.” Após este travamento, não sobrava espaço entre elas. Era um serviço lento e artesanal, durante o qual sobrava tempo até para gravar nas pedras as iniciais dos oficiais que as talhavam.
Numa outra fase, em meados dos anos 1960, continuou-se usando as linhas longitudinais e transversais para marcação das vias de tráfego e as linhas transversais para fechar os canteiros. Porém, no preenchimento dos canteiros, os matacões não preenchiam todos os espaços. Após serem nivelados, os espaços eram preenchidos com concreto. O preenchimento dom concreto deu mais agilidade ao processo, mas as pedras não estavam travadas umas nas outras, mas fixadas com o concreto. Outro fato que diferencia uma técnica da outra é a economia de pedras. Com o uso do concreto, além de rápida, utilizava-se menos pedras-lage.
Entretanto, o uso do cimento como rejunte provocou uma deterioração rápida do calçamento. Ruas que eram calçadas com esta técnica, rapidamente apresentavam rachaduras no cimento, com consequente desnivelamentos entre as pedras. A deterioração foi acontecendo sem que se fizesse o diagnóstico do problema. O problema persistiu durante décadas sem que se instituísse um treinamento de novos calceteiros além de não prover uma manutenção periódica do calçamento, nem mesmo das áreas deterioradas.
Numa outra fase, as linhas transversais foram abolidas devido ao alto custo que representavam para serem confeccionadas.
Numa última fase, foram abolidas também das linhas longitudinais. Utilizavam-se apenas os matacões que eram dispostos com grande espaços entre si e preenchidos com concreto.
O resultado da degradação da técnica não poderia ser outro senão a degradação cada vez mais rápida do calçamento, resultando num piso de má qualidade, com falhas e desníveis que tornam o trânsito de veículos e pessoas desconfortável além de denotar desleixo com um bem material e imaterial da nossa cultura e história.
Em várias ocasiões, empreiteiras fizeram e ainda fazem valas em trechos de calçamento. Entretanto, quando iam fazer os reparos no calçamento, não havia o devido cuidado e técnica para deixar como foi encontrado.

Nas fotos abaixo, trechos da Rua da Glória, onde se pode perceber um afundamento bem no meio da rua. Este é sinal de que ali foi feito uma vala e que ao tampá-la, não houve o cuidado de recolocar as linhas na mesma posição. Outro fato que sempre ocorre na ocasião de perfuração de valas, é a compactação insuficiente da terra. Com o tempo, o trecho afunda. Isto também pode ser percebido nestas fotos.               
                      
Abaixo, fotos com trechos de calçamento recunhado em perfeito estado de conservação.
Trecho de calçamento ao lado da Catedral Metropolitana em perfeito estado de conservação apesar de ter sido feito há mais de seis décadas. Perceba também o perfeito alinhamento das pedras.

Nosso calçamento é um patrimônio que deve e pode ser conservado. No entanto, necessita de uma manutenção e no meu modo de entender, deveria ser RESTAURADO, com toda a paciência e tempo necessários. O ideal seria restaurar utilizando a técnica de recunhamento.
O trabalho de restauração servirá, além de serviço em si, também como atração turística, porque é uma medida a ser realizada a longo prazo, trecho por trecho, rua por rua. As obras não necessitariam ser isoladas por tapumes para os turistas poderem acompanhar o serviço artesanal sendo realizado no local.
Outro benefício de uma obra deste vulto será a revalorização da profissão de calceteiro, praticamente inexistente nos dias de hoje. Para isso poderá se aproveitar a mão-de-obra de jovens que ainda não tiveram oportunidade de qualificação profissional.
Como exemplo de calçamento recunhado em bom estado, posso citar o trecho em frente à estação ferroviária (ao final da Avenida Francisco Sá), que resiste ao trânsito pesado sem se abalar por mais de sete décadas.

                                      
Acima, um trecho com calçamento recunhado em bom estado de conservação.

Minha motivação para o projeto

 Quando criança, eu acompanhava o serviço dos operários durante o calçamento da Praça Dr Prado. Cresci vendo o calçamento ser degradado e nada ser feito para reparar. Presenciei novas ruas sendo calçadas cada vez com menos cuidado e se deteriorando rapidamente.
Fui trabalhar fora de Diamantina durante quinze anos. Sempre que voltava para visitar meus pais, reparava que o calçamento continuava na mesma.
Ao retornar a residir aqui, resolvi que deveria fazer algo a respeito e não apenas me conformar.
Daí nasceu a proposta do Manifesto Acerta Pedra. Também tive a oportunidade de ajudar a realizar um calçamento com esta técnica, no qual coloquei a mão na massa e aprendendo com um oficial calceteiro de vasta experiência. Ajuntando este treinamento com toda a história pregressa de observações é que me proponho a treinar operários na técnica do recunhamento.

Abaixo, detalhe do calçamento que ajudei a fazer.


Projeto ACERTA PEDRA

O propósito é recalçar um determinado trecho de rua a título de demonstração.
Acredito que depois que uma turma de operários forem treinados na técnica do recunhamento e a população acompanhar e conferir a restauração de um trecho de rua, todos poderão relembrar de como o nosso calçamento, quando bem conservado pode ser de excelente qualidade.
Assim, a memória coletiva poderá ser reavivada e a técnica não mais esquecida, com a consequente valorização, tanto da técnica, quanto do que representa em termos de história, cultura e arte do operário simples, mas criativo.
A restauração de trecho por trecho, rua por rua, de maneira contínua, será benéfíco para todos os envolvidos e também para os usuários.
O espaço escolhido para a primeira intervenção deverá ser central para a população acompanhar;
Deverá estar bastante estragado, para a diferença ser percebida
Deverá ser em um local estratégico para não impactar negativamente antes que os efeitos positivos se façam sentir.
Licenciamento legal para execução da obra;
Ferramentas e maquinário para compactação do solo; pedras-lage e material para assentamento das mesmas;
Mão de obra dos calceteiros que ao mesmo tempo estarão sendo treinados;
Logística para interrupção do trânsito e sinalização.

Planejamento para execução da obra:
1ª fase: Definição de um trecho de rua estrategicamente localizado e que esteja estragado para ser restaurado;
2ª fase: Fotografar a área escolhida, quadrante por quadrante;
3ª fase: Codificar as pedras, realizando marcas em cada uma;
4ª fase: descalçar completamente a área, colocando as pedras ao lado do canteiro de obras;
5ª fase: as firmas de saneamento e de água serão convidadas a intervir preventivamente no subsolo para evitar a retirada do calçamento novo em caso de surgimento de algum problema;
6ª fase: terraplanagem, impermeabilização e cobertura com material adequado para receber as pedras;
7ª fase: recolocação das pedras que não estiverem danificadas. Em primeiro lugar, as linhas e em seguida os matacões;
8ª fase: colocação de pedras novas nos locais em que havia pedras defeituosas, quebradas ou gastas;
10ª fase: recunhamento e espalhamento de areia por cima;
12ª fase: abertura ao trânsito.

Observação: o treinamento da turma de calceteiros será feita concomitantemente à restauração da área. Eles serão treinados em relação a diversos aspectos como: lapidação das lages para confecção de linhas, ajuste de matacões aos canteiros, noções e treinamento em alinhamento, nivelamento e corridas d’água.


Sistema de codificação das pedras:

1-      Fotografar quadrante por quadrante e pelas fotos, identificar as pedras, codificando-as.
Esquemas de “linhas” longitudinais e transversais e “canteiros”

2-      Esquema de quadrantes para usar na codificação das pedras

3-      Exemplo de numeração para as pedras em seus quadrantes para identificação de sua posição.
Com a identificação, haverá possibilidade de voltar as pedras para os lugares de origem.




          Trecho mais provável de ser escolhido

   Houve uma reunião com algumas pessoas entusiastas do projeto, no ano passado, para se discutir o local adequado para ser realizado o Manifesto Acerta Pedra. Neste dia, decidiu-se que o trecho em frente ao Hotel Tijuco, por possuir uma rua paralela logo abaixo que evitaria transtornos ao trânsito, seria o trecho mais adequado.
      Entretanto, com o tempo, e devido a várias outras conversas com outras pessoas, pensou-se em escolher o trecho em frente à Escola Leopoldo Miranda, por estar bastante estragado, por possuir também possibilidade de desvio de trânsito ao redor do prédio da CEMIG, e pela possibilidade de provocar uma motivação mais ampla por ser em frente a uma escola.
      Além disso, os estudantes poderiam se engajar numa atitude participativa durante a execução das obras.

                               Abaixo, uma foto com o traçado do perímetro da área a ser restaurada
                                                  e da direção do fluxo de carros durante as obras.

Este trecho mostrou-se muito grande e optou-se por restaurar em frente à Catedral