terça-feira, 11 de dezembro de 2012



Posto o esquema da área escolhida para ser restaurada.

Observem como as pedras estão, talvez, em sua maioria, 
estragadas, esfareladas, quebradas.
Em parte, se deve à má qualidade delas mesmas, as 
pedras do tipo ARENITO, são as que parecem ser 
"areientas". As pedras que brilham, são as mais duras, 
difíceis de quebrar e mais duráveis - são as pedras de
quartzito.
Repare nas fotos abaixo, que estes dois tipos estão 
mesclados. É preciso esclarecer aos novos calceteiros
quais pedras escolher para que o calçamento fique mais
durável.

Faça seu comentário. eles são importantes.

Nesta foto, os limites da área, com setas indicando a 

direção do fluxo do trânsito, a ser desviado.


Abaixo, uma vista panorâmica do local escolhido


Outra vista panorâmica, com os limites da área em preto



domingo, 2 de dezembro de 2012

Projeto Acerta Pedra - eis como se encontra atualmente.
O croqui da área a ser restaurada e também a planilha de custos estão em fase de conclusão para serem incluídos.

Os comentários dos leitores são importantes e desejáveis. Mas, se você não quiser se identificar, poste como anônimo. Não há problema. Publicarei assim que chegar ao meu conhecimento.


Projeto


Acerta pedra


Diamantina - 2012







Projeto para revitalização do calçamento de Diamantina
INTRODUÇÃO: O calçamento de Diamantina foi feito originalmente com pedras roliças que sobravam da exploração do garimpo. Pelas características peculiares que tinha, foi alcunhado de “pé-de-moleque”. Por meio de observação cuidadosa, pude identificar fases e técnicas desde o estilo “pé-de-moleque” até o que se pratica atualmente nos novos calçamentos.
Em substituição ao “pé-de-moleque”, e inspirado nas antigas calçadas de Roma, foi feito o calçamento estilo romano, tipo o existente na Via Ápia.
                                                  
Detalhe da Via Ápia, modelo de calçamento romano.

Em meados dos anos 1940, o calçamento do tipo “pé-de-moleque” foi sendo substituído pelo calçamento romano, no qual passou a se usar as “pedras-lage”, que são pedras largas e planas. Extraídas de jazidas de quartzito, elas eram lapidadas em forma de retângulos e dispostas longitudinalmente às ruas para marcarem as vias de trânsito. Pedras retangulares também eram dispostas, de espaços em espaços, no sentido transversal da rua, formando quadrantes, alcunhados de “canteiros”. Estes canteiros por sua vez, eram preenchidos por outras pedras-lage sem lapidação, chamadas de “matacões”. Para finalizar o trabalho, todas as pedras eram apertadas umas nas outras com fragmentos delas próprias; o que rendeu a este estilo de calçamento o nome de calçamento “recunhado.” Após este travamento, não sobrava espaço entre elas. Era um serviço lento e artesanal, durante o qual sobrava tempo até para gravar nas pedras as iniciais dos oficiais que as talhavam.
Numa outra fase, em meados dos anos 1960, continuou-se usando as linhas longitudinais e transversais para marcação das vias de tráfego e as linhas transversais para fechar os canteiros. Porém, no preenchimento dos canteiros, os matacões não preenchiam todos os espaços. Após serem nivelados, os espaços eram preenchidos com concreto. O preenchimento dom concreto deu mais agilidade ao processo, mas as pedras não estavam travadas umas nas outras, mas fixadas com o concreto. Outro fato que diferencia uma técnica da outra é a economia de pedras. Com o uso do concreto, além de rápida, utilizava-se menos pedras-lage.
Entretanto, o uso do cimento como rejunte provocou uma deterioração rápida do calçamento. Ruas que eram calçadas com esta técnica, rapidamente apresentavam rachaduras no cimento, com consequente desnivelamentos entre as pedras. A deterioração foi acontecendo sem que se fizesse o diagnóstico do problema. O problema persistiu durante décadas sem que se instituísse um treinamento de novos calceteiros além de não prover uma manutenção periódica do calçamento, nem mesmo das áreas deterioradas.
Numa outra fase, as linhas transversais foram abolidas devido ao alto custo que representavam para serem confeccionadas.
Numa última fase, foram abolidas também das linhas longitudinais. Utilizavam-se apenas os matacões que eram dispostos com grande espaços entre si e preenchidos com concreto.
O resultado da degradação da técnica não poderia ser outro senão a degradação cada vez mais rápida do calçamento, resultando num piso de má qualidade, com falhas e desníveis que tornam o trânsito de veículos e pessoas desconfortável além de denotar desleixo com um bem material e imaterial da nossa cultura e história.
Em várias ocasiões, empreiteiras fizeram e ainda fazem valas em trechos de calçamento. Entretanto, quando iam fazer os reparos no calçamento, não havia o devido cuidado e técnica para deixar como foi encontrado.

Nas fotos abaixo, trechos da Rua da Glória, onde se pode perceber um afundamento bem no meio da rua. Este é sinal de que ali foi feito uma vala e que ao tampá-la, não houve o cuidado de recolocar as linhas na mesma posição. Outro fato que sempre ocorre na ocasião de perfuração de valas, é a compactação insuficiente da terra. Com o tempo, o trecho afunda. Isto também pode ser percebido nestas fotos.               
                      
Abaixo, fotos com trechos de calçamento recunhado em perfeito estado de conservação.
Trecho de calçamento ao lado da Catedral Metropolitana em perfeito estado de conservação apesar de ter sido feito há mais de seis décadas. Perceba também o perfeito alinhamento das pedras.


Nosso calçamento é um patrimônio que deve e pode ser conservado. No entanto, necessita de uma manutenção e no meu modo de entender, deveria ser RESTAURADO, com toda a paciência e tempo necessários. O ideal seria restaurar utilizando a técnica de recunhamento.
O trabalho de restauração servirá, além de serviço em si, também como atração turística, porque é uma medida a ser realizada a longo prazo, trecho por trecho, rua por rua. As obras não necessitariam ser isoladas por tapumes para os turistas poderem acompanhar o serviço artesanal sendo realizado no local.
Outro benefício de uma obra deste vulto será a revalorização da profissão de calceteiro, praticamente inexistente nos dias de hoje. Para isso poderá se aproveitar a mão-de-obra de jovens que ainda não tiveram oportunidade de qualificação profissional.
Como exemplo de calçamento recunhado em bom estado, posso citar o trecho em frente à estação ferroviária (ao final da Avenida Francisco Sá), que resiste ao trânsito pesado sem se abalar por mais de sete décadas.

                                      
Acima, um trecho com calçamento recunhado em bom estado de conservação.

Minha motivação para o projeto

 Quando criança, eu acompanhava o serviço dos operários durante o calçamento da Praça Dr Prado. Cresci vendo o calçamento ser degradado e nada ser feito para reparar. Presenciei novas ruas sendo calçadas cada vez com menos cuidado e se deteriorando rapidamente.
Fui trabalhar fora de Diamantina durante quinze anos. Sempre que voltava para visitar meus pais, reparava que o calçamento continuava na mesma.
Ao retornar a residir aqui, resolvi que deveria fazer algo a respeito e não apenas me conformar.
Daí nasceu a proposta do Manifesto Acerta Pedra. Também tive a oportunidade de ajudar a realizar um calçamento com esta técnica, no qual coloquei a mão na massa e aprendendo com um oficial calceteiro de vasta experiência. Ajuntando este treinamento com toda a história pregressa de observações é que me proponho a treinar operários na técnica do recunhamento.

Abaixo, detalhe do calçamento que ajudei a fazer.



Projeto Acerta pedra

O propósito é recalçar um determinado trecho de rua a título de demonstração.
Acredito que depois que uma turma de operários forem treinados na técnica do recunhamento e a população acompanhar e conferir a restauração de um trecho de rua, todos poderão relembrar de como o nosso calçamento, quando bem conservado pode ser de excelente qualidade.
Assim, a memória coletiva poderá ser reavivada e a técnica não mais esquecida, com a consequente valorização, tanto da técnica, quanto do que representa em termos de história, cultura e arte do operário simples, mas criativo.
A restauração de trecho por trecho, rua por rua, de maneira contínua, será benéfíco para todos os envolvidos e também para os usuários.
O espaço escolhido para a primeira intervenção deverá ser central para a população acompanhar;
Deverá estar bastante estragado, para a diferença ser percebida
Deverá ser em um local estratégico para não impactar negativamente antes que os efeitos positivos se façam sentir.
Licenciamento legal para execução da obra;
Ferramentas e maquinário para compactação do solo; pedras-lage e material para assentamento das mesmas;
Mão de obra dos calceteiros que ao mesmo tempo estarão sendo treinados;
Logística para interrupção do trânsito e sinalização.

Planejamento para execução da obra:
1ª fase: Definição de um trecho de rua estrategicamente localizado e que esteja estragado para ser restaurado;
2ª fase: Fotografar a área escolhida, quadrante por quadrante;
3ª fase: Codificar as pedras, realizando marcas em cada uma;
4ª fase: descalçar completamente a área, colocando as pedras ao lado do canteiro de obras;
5ª fase: as firmas de saneamento e de água serão convidadas a intervir preventivamente no subsolo para evitar a retirada do calçamento novo em caso de surgimento de algum problema;
6ª fase: terraplanagem, impermeabilização e cobertura com material adequado para receber as pedras;
7ª fase: recolocação das pedras que não estiverem danificadas. Em primeiro lugar, as linhas e em seguida os matacões;
8ª fase: colocação de pedras novas nos locais em que havia pedras defeituosas, quebradas ou gastas;
10ª fase: recunhamento e espalhamento de areia por cima;
12ª fase: abertura ao trânsito.

Observação: o treinamento da turma de calceteiros será feita concomitantemente à restauração da área. Eles serão treinados em relação a diversos aspectos como: lapidação das lages para confecção de linhas, ajuste de matacões aos canteiros, noções e treinamento em alinhamento, nivelamento e corridas d’água.


Sistema de codificação das pedras:

1-      Fotografar quadrante por quadrante e pelas fotos, identificar as pedras, codificando-as.
Esquemas de “linhas” longitudinais e transversais e “canteiros”


2-      Esquema de quadrantes para usar na codificação das pedras


3-      Exemplo de numeração para as pedras em seus quadrantes para identificação de sua posição.
Com a identificação, haverá possibilidade de voltar as pedras para os lugares de origem.





          Trecho mais provável de ser escolhido

   Houve uma reunião com algumas pessoas entusiastas do projeto, no ano passado, para se discutir o local adequado para ser realizado o Manifesto Acerta Pedra. Neste dia, decidiu-se que o trecho em frente ao Hotel Tijuco, por possuir uma rua paralela logo abaixo que evitaria transtornos ao trânsito, seria o trecho mais adequado.
      Entretanto, com o tempo, e devido a várias outras conversas com outras pessoas, pensou-se em escolher o trecho em frente à Escola Leopoldo Miranda, por estar bastante estragado, por possuir também possibilidade de desvio de trânsito ao redor do prédio da CEMIG, e pela possibilidade de provocar uma motivação mais ampla por ser em frente a uma escola.
      Além disso, os estudantes poderiam se engajar numa atitude participativa durante a execução das obras.

                               Abaixo, uma foto com o traçado do perímetro da área a ser restaurada
                                                  e da direção do fluxo de carros durante as obras.